quinta-feira, junho 25, 2009

Do filme de Derek Jarman (que vi ontem)

O filme Wittgenstein (1993) pode ser visto aqui.

quarta-feira, junho 24, 2009

O Evangelho segundo Ricardo Costa

«num caso como este as pessoas acreditam no que quiserem mas se acreditarem no que eu vou dizer vão acreditar na verdade.
Ricardo illuminati Costa à sic notícias, a propósito do caso PT/TVI»

Depois de ouvir em directo, encontrei a citação aqui.

terça-feira, junho 23, 2009

As cócegas de Nietzsche explicadas por MacIntyre

«[...]
E, resumindo: se tivesses pensado mais avisadamente, observando melhor e aprendido mais, não tornarias a chamar em caso algum a este teu «dever» e a esta tua «consciência» dever e consciência; o conhecimento de como alguma vez os juízos morais puderam ter origem desgostar-te-ia destas patéticas palavras - tal como já acontecera com outras palavras patéticas, por exemplo, «pecado», «bem-aventurança», «redenção».
E não me fales agora do imperativo categórico, meu amigo! Esta expressão faz-me cócegas no ouvido e tenho de me rir, apesar da tua grave presença; lembra-me o velho Kant, que para castigo de ter surpreendido «a coisa em si» - uma coisa também muito ridícula! -, foi surpreendido pelo «imperativo categórico» e, com ele no coração, tornou a desencaminhar-se para «Deus», «alma», «liberdade» e «imortalidade», tal como uma raposa que se torna a desencaminhar para a sua gaiola; e tinham sido a sua força e inteligência que haviam arrombado esta gaiola!»

F. Nietzsche. A Gaia Ciência, secção 335. Lisboa: Relógio d'Água, 1998, p. 235


«The rational and rationally justified autonomous moral subject of the eighteenth century is a fiction, an illusion; so, Nietzsche resolves, let will replace reason and let us make ourselves into autonomous moral subjects by some gigantic and heroic act of the will, an act of the will that by its quality may remind us of that archaic aristocratic self-assertiveness which preceded what Nietszche took to be the disaster of slave-morality and which by its effectiveness may be the prophetic precursor of a new era. The problem then is how to construct in an entirely original way, how to invent a new table of what is good and a law, a problem which arises for each individual. This problem would constitute the core of a Nietzschean moral philosophy. For it is in his relentlessly serious pursuit of the problem, not in his frivolous solutions that Nietzsche's greatness lies, [...]».

Alasdair MacIntyre. After Virtue. A study in Moral Theory. Duckworth, 1984, second edition, p. 114. (itálicos meus)

Os subsídios e o cinema português segundo Vasco Graça Moura

Quem vai pedir ao Estado quer produzir à custa do Estado, em vez de produzir à custa do desafio que é a criação, que é enfrentar o público, etc.. [...] No caso do cinema de autor, vemos coisas tristes como no passado, porque é sempre o mesmo miserabilismo, sempre o mesmo tipo que se droga, sempre as mesmas coisas que não têm pés nem cabeça... E o Estado a pagar. Para mim, isso não tem pés nem cabeça. Não há nada que subsidiar essas coisas.

Vasco Graça Moura entrevistado por Constânça Cunha e Sá, no programa "Cartas na Mesa".

Estas três semanas

Desde que publiquei este post, aconteceram várias coisas que a blogosfera comentou:

Eleições para o parlamento europeu -
Sobre as eleições, o dado mais preocupante é, a meu ver, a possibilidade de certas figuras que actualmente pertencem às juventudes partidárias (veja-se o primeiro vídeo deste post do "Provas de Contacto") estarem, daqui a uns anos, a governar o país.

A entrevista de José Sócrates à Sic-Notícias -
A dada altura, tive uma alucinação: pareceu-me ver uma auréola a surgir por cima da cabeça do primeiro-ministro. Foi no momento do "parte-se-me o coração". Recuperei a sanidade mental, enfim, quando me lembrei de uma crónica de João Pereira Coutinho que já tem alguns anos. A crónica "O pio do engenhario pio", de 24 de Setembro de 1999 (está no volume Vida Independente, que reúne as crónicas publicadas n'O Independente entre 1998 e 2003), falava também de um «engenheiro profundamente chocado, ou profundamente ferido, ou profundamente tocado».

Foi formulada a metáfora mais estranha de sempre da nossa vida política (se não é a mais estranha, é certamente uma forte candidata ao prémio) -
Pacheco Pereira foi descrito como uma «loura». Bom, esta é a prova de que nunca devemos subestimar a capacidade humana para estabelecer analogias.

Vai haver eleições no Benfica -
Eu, como portista que sou, acho que a continuação de Luís Filipe Vieira seria espectacular. Foi, portanto, com enorme alegria que descobri aqui que não sou a única a apoiá-lo. Muitas pessoas (e alguns programas de humor...) também estão a torcer por Vieira.

sábado, junho 06, 2009

Tempo de meditação (II)


Notas para o fim-de-semana

O Maradona escreveu sobre a figura do Nuno Melo. Nada a dizer. É um homem muito bonito (a prova está aqui, no "Bomba Inteligente"). Mas, para mim, o mais importante do post é a referência ao psicanalista Carlos Amaral Dias, descrito como «o gajo mais incompreensível de Portugal». Se alguém tem dúvidas, é só ouvir o "Alma Nostra", o programa da Antena 1 que passa «quando os outros vêem televisão», como diz o Carlos Magno no início de cada emissão. Na verdade, seria igualmente correcto dizer que o Carlos Amaral Dias e o Carlos Magno, quando se juntam, conseguem ser os «gajos mais incompreensíveis de Portugal». Sobretudo quando o Carlos Magno (que deve ter andado a ler os positivistas lógicos...) começa a falar do seu fascínio pela linguagem, e a dizer que 'tudo é linguagem', e que 'as palavras determinam tudo' - coisas deste tipo. Coisas que o Carlos Amaral Dias aprofunda.

Bom, amanhã é dia de eleições e eu concordo com a Ana Cristina Leonardo, ou seja, também penso que se deve ir votar (percebo as razões do João Pereira Coutinho, mas não me convencem totalmente). O problema é que hoje ainda não sei em quem irei votar. É verdade: incluo-me na categoria dos "indecisos". Devo, no entanto, deixar uma nota sobre a minha indecisão. Há, evidentemente, alguma desilusão com a classe política, mas o facto é que, desde há algum tempo, estou numa fase de indecisão em termos políticos. Vivo uma espécie de dupla personalidade política. Explicando melhor: há dias em que divido as pessoas em «pessoas de esquerda» e «pessoas de direita»; em que consigo ler os textos do Daniel Oliveira até ao fim; em que os discursos do Francisco Louçã ou da llda Figueiredo me deixam com vontade de vociferar contra os «ricos» e contra «o grande capital»; e em que a palavra «justiça» aparece na minha mente como uma «ideia clara e distinta» (como diria Descartes). Porém, há outros dias em que acontece o oposto, e as frases que acabei de escrever surgem na forma negativa. Nestes dias, fico em pânico só com a ideia de ter alguém a tratar-me por "camarada" (o que já aconteceu...). São dias em que vejo naqueles discursos sinais de uma visão totalitária, e em que recordo o que me dizia uma amiga que escreveu uma tese sobre o conceito de felicidade na obra de George Orwell: o problema dos 'regimes perfeitos' é que são tão perfeitos que não precisam das pessoas. Entretanto, vou continuar por aqui a ler um capítulo do After Virtue, um livro genial do Alasdair MacIntyre, e talvez amanhã, com a ajuda de uma iluminação, a minha indecisão desapareça.

quinta-feira, junho 04, 2009

"Singularidades de Uma Rapariga Loura"


De Singularidades de uma Rapariga Loura, o filme mais recente de Manoel de Oliveira, retive a cena da janela, onde alguns viram uma vénia ao mestre Hitchcock. A janela - metáfora útil a empiristas como John Locke - enquadra a rapariga loura. Melhor, inscreve-a no filme como a pintura que vemos atrás do leque com que Luísa quase hipnotiza Macário. Com efeito, todo o filme explica (é esse o seu fim, creio) a distância que existe entre aquilo que se vê da janela do escritório - pelo olhar de Macário - e o que se vê na outra janela - Luísa. O problema de Macário foi, citando o texto de Eça, o da «intuição interpretativa dos namorados». ("Singularidades de Uma Rapariga Loura". Contos. Lisboa: Livros do Brasil, 1999, p. 14).

terça-feira, junho 02, 2009

O grande Che




Matthew Diffee, 2004
(The Complete Cartoons of the New Yorker)

segunda-feira, junho 01, 2009

Melhor do que o sketch...

Ontem, fazendo zapping, fui dar com um concurso ("Uma canção para ti") que passa agora na TVI e que foi parodiado num dos últimos episódios dos "Contemporâneos". Houve dois aspectos que fixei. Primeiro, o Pedro Granger consegue ser melhor do que o sketch (não é fácil, acreditem), e usa mesmo a expressão "Força na maionese!" (a expressão não é da autoria dos "Contemporâneos", como cheguei, benevolente, a pensar). O segundo aspecto é o facto de se tratar de um programa onde as coisas que se dizem às crianças são quase sempre desonestas, e contribuem para difundir a ideia de que "cantando e dançando somos os maiores!" (Aliás, à mesma hora, outras crianças dançavam no canal 1, num concurso que oferece um MP3!!!) Além disso, a qualidade da voz dos concorrentes nem é o mais importante; a piada que os 'pequenos' procuram ter, sobretudo quando mandam "beijinhos lá para casa", parece sobrepor-se a qualquer tentativa de objectividade na avaliação. A contrastar com a generalidade dos comentários que ouvi (se os levássemos a sério, era razão para crer que os melhores tenores e sopranos da actualidade estavam já a pensar na reforma antecipada...) só mesmo as palavras do 'senhor da maionese' que, pronunciando-se sobre um dos concorrentes, se lembrou de dizer: "eu, quando era da tua idade, tinha a voz ainda mais fanhosa" (!!!).
Com programas destes, quem é que precisa de programas de humor?