O Maradona escreveu sobre a figura do Nuno Melo. Nada a dizer. É um homem muito bonito (a prova está aqui, no "Bomba Inteligente"). Mas, para mim, o mais importante do post é a referência ao psicanalista Carlos Amaral Dias, descrito como «o gajo mais incompreensível de Portugal». Se alguém tem dúvidas, é só ouvir o "Alma Nostra", o programa da Antena 1 que passa «quando os outros vêem televisão», como diz o Carlos Magno no início de cada emissão. Na verdade, seria igualmente correcto dizer que o Carlos Amaral Dias e o Carlos Magno, quando se juntam, conseguem ser os «gajos mais incompreensíveis de Portugal». Sobretudo quando o Carlos Magno (que deve ter andado a ler os positivistas lógicos...) começa a falar do seu fascínio pela linguagem, e a dizer que 'tudo é linguagem', e que 'as palavras determinam tudo' - coisas deste tipo. Coisas que o Carlos Amaral Dias aprofunda.
Bom, amanhã é dia de eleições e eu concordo com a Ana Cristina Leonardo, ou seja, também penso que se deve ir votar (percebo as razões do João Pereira Coutinho, mas não me convencem totalmente). O problema é que hoje ainda não sei em quem irei votar. É verdade: incluo-me na categoria dos "indecisos". Devo, no entanto, deixar uma nota sobre a minha indecisão. Há, evidentemente, alguma desilusão com a classe política, mas o facto é que, desde há algum tempo, estou numa fase de indecisão em termos políticos. Vivo uma espécie de dupla personalidade política. Explicando melhor: há dias em que divido as pessoas em «pessoas de esquerda» e «pessoas de direita»; em que consigo ler os textos do Daniel Oliveira até ao fim; em que os discursos do Francisco Louçã ou da llda Figueiredo me deixam com vontade de vociferar contra os «ricos» e contra «o grande capital»; e em que a palavra «justiça» aparece na minha mente como uma «ideia clara e distinta» (como diria Descartes). Porém, há outros dias em que acontece o oposto, e as frases que acabei de escrever surgem na forma negativa. Nestes dias, fico em pânico só com a ideia de ter alguém a tratar-me por "camarada" (o que já aconteceu...). São dias em que vejo naqueles discursos sinais de uma visão totalitária, e em que recordo o que me dizia uma amiga que escreveu uma tese sobre o conceito de felicidade na obra de George Orwell: o problema dos 'regimes perfeitos' é que são tão perfeitos que não precisam das pessoas. Entretanto, vou continuar por aqui a ler um capítulo do After Virtue, um livro genial do Alasdair MacIntyre, e talvez amanhã, com a ajuda de uma iluminação, a minha indecisão desapareça.