«O cómico é essa recusa [i.e. a recusa da consolação da inteligibilidade]: além de antimoderno, o cómico machadiano é antitrágico, no preciso sentido em que denuncia a presunção persistente de que o modelo trágico é o modelo adequado à inteligibilidade da vida e do mundo. A recusa do trágico é rigorosamente antimoderna - quer dizer, modernamente antimoderna - porque conduzida à opção pelo cómico: o tédio e a melancolia, o desconcerto e o absurdo, são e não podem ser senão matéria de comédia, e comédia filosófica, porque são e não podem ser senão matéria da inquirição filosófica que desfigura a face eufórica e providencialista dum mundo ordenado para o progresso.»
Abel Barros Baptista. "Mas este capítulo não é sério..."
(Revista Ler, n.º 72, Setembro 2008)