sábado, maio 29, 2010

Epitáfio para um automóvel

Comprei um carro novo e entreguei o meu «para abate», como dizia o vendedor, cheio de simpatia. Hoje fui deixá-lo numa garagem escura. Ficou lá, num canto. Estava velhinho e soluçava muito. Tinha 16 anos. Muito estranho isto: a sensação de que estava a ter um comportamento moral, o meu afecto por uma máquina. Não chorei, por pouco.

E o sonho torna-se realidade: 8 horas de sardinhas


Setúbal a caminho do Guinness por causa das sardinhas (e do cheirinho na roupa, certamente).

sexta-feira, maio 28, 2010

Sem rede

Numa sociedade perfeita (que, como diz um poema de que gosto muito, é daquelas coisas que não há mas há – existem utopicamente, em pensamento ou ideia), o trabalho e a vida não se opõem. Num sistema demasiado imperfeito, o trabalho está mais perto da morte do que da vida. É nesse sistema que é possível que "uma empresa peça aos funcionários para assinarem documentos a garantir que não se vão suicidar". E quando nem os monges budistas podem ajudar, o melhor é colocar umas redes para travar as quedas.
(também aqui)

terça-feira, maio 25, 2010

A pergunta do filme

É isto que as pessoas fazem, não é?

segunda-feira, maio 24, 2010

O Zé

«És o maior, Zé»
(Jornal de Setúbal, 24.5.2010)

O Zé é o José Mourinho.

Reforço positivo

No ano em que sofri para ler coisas relacionadas com as ciências da educação, tive discussões interessantes com um professor de psicologia. As discussões começavam com as minhas objecções a uma tese que parte do princípio de que os meninos que se portam mal são meninos que não são reforçados positivamente. Lidar com um problema disciplinar passa por reforçar positivamente - era a ideia que o professor de psicologia da educação pretendia transmitir. E eu e os meus colegas lá fomos assistir a umas aulas para ver como é que esses meninos se comportavam "em" sala de aula. Hoje, com o meu primeiro ano numa escola quase a terminar, concordo mais com o que aprendi nas aulas de psicologia da educação, mas também confirmei que o princípio do reforço positivo não explica tudo. Ainda há pouco um colega me dizia uma coisa pertinente: é na altura em que se exige uma avaliação dos professores (que, evidentemente, é importante, mas não chega; há outros problemas - como o recrutamento e a credibilidade das instituições que formam - que não existem nas mentes de quem concebeu a avaliação), é nessa altura que eles, os professores, estão a fazer aquilo que, à partida, não compete a um professor. Coisas simples, como conseguir que um aluno se sente, ou mais complicadas, como pedir-lhe que largue o pescoço do colega porque essa não é a melhor maneira de pôr termo a uma discussão. Por exemplo.

sábado, maio 01, 2010

O poder de Emerson

Vários leitores de Ralph Emerson sublinharam o seu poder de conversão, o poder de tornar evidente uma afirmação que contém uma filosofia de vida. Harold Bloom fala disto num livro extraordinário chamado Onde está a sabedoria? Quando estava a ler os ensaios de Emerson publicados em A Confiança em Si, A Natureza e outros ensaios, lembrei-me desse "poder". O primeiro ensaio, "A Confiança em Si", faz pensar numa literatura de auto-ajuda (Bloom fala em "autocura"), com Emerson a afirmar, no final do texto, que somos nós próprios que construímos a nossa paz . Emerson defende que o nosso valor reside na nossa singularidade («A minha vida existe por si mesma, não para um espectáculo») e na capacidade de exprimir essa singularidade em ideias. Ser homem, ser humano, implica um afastamento da sociedade e dos grupos: «ser grande é ser incompreendido», ou saber «existir através da História».
(também aqui)