quinta-feira, dezembro 31, 2009

Vamos lá fazer um balanço...

Agora que é tempo de balanço, aqui fica uma espécie de lista.
Dois filmes de que gostei muito: Inglourious Basterds, do grande Tarantino, e The Hurt Locker. A maior decepção foi o Avatar (cheguei a ter pena da Sigourney Weaver no Daily Show). No meio ficou o Capitalism: A Love Story. Eu, que não morro de amores pelo trabalho do Michael Moore, até achei graça.
Sobre livros, o pior do ano é o Caim. E o livro que recomendo sem hesitação é O Filósofo e o Lobo, de Mark Rowlands (li a tradução, que saiu este ano). Este livro passou facilmente no meu teste: chorei muito.
De música... Humm... Como dizia o poeta, 'citar é ser injusto, enumerar é esquecer'. Mas o disco que ouvi mais foi o "My Maudlin Career", dos Camera Obscura.
Em política, o acontecimento do ano foi a trapalhada das escutas. E a frase mais engraçada (e a merecer comentário num seminário de ciência política) foi dita por Sócrates: «Foi pró Algarve, seu maroto». O maroto era Louçã.

Até para o ano!

domingo, dezembro 27, 2009

Como diz o diácono, "não vejo por que razão o protesto de uns possa negar o divertimento a outros"

Li na Sábado desta semana que um diácono anglicano resolveu colocar numa rua em Auckland um cartaz com José e Maria na cama. Houve gente que achou graça, houve gente que não achou graça nenhuma. Como eu me incluo no grupo das pessoas que acham graça, aqui fica o cartaz:

A Letra Encarnada

The Scarlet Letter, pintura de T. H. Matteson

No prefácio que escreveu para a sua tradução de The Scarlet Letter, romance de Nathaniel Hawthorne publicado em 1850, Fernando Pessoa cita vários críticos e conclui que, para a generalidade da opinião crítica inglesa, o romance é uma obra-prima. Não sabemos se Pessoa estaria de acordo com esta opinião geral; como nota George Monteiro na introdução ao texto traduzido pelo autor de Mensagem, «é possível especular sobre o fascínio que o romance deve ter exercido sobre o poeta» (Dom Quixote, 2009, Biblioteca António Lobo Antunes, p. XV).
O texto que li, A Letra Encarnada, é uma tradução – a de Fernando Pessoa –, mas as considerações filosóficas e as analogias, que singularizam a prosa genial de Hawthorne, escapam à traição do tradutor, e mostram um autor empenhado em criar «qualquer coisa de novo em literatura» (p. 35). O «novo em literatura» significará a capacidade de contar uma história a partir da qual possamos aperfeiçoar as nossas teorias sobre a natureza humana («Escolha o leitor entre estas teorias a que lhe parecer melhor», p. 270). E o que diz acerca da ‘natureza humana’ a história de Hester Prynne, a mulher que, no meio de uma comunidade onde reinava a «tristeza puritana» (p. 241), usava um sinal – uma letra encarnada – como marca da ignomínia? Optando por uma «teoria», seria possível incluir na resposta a palavra “sinceridade”. De facto, a ‘loucura’ do padre Arthur Dimmesdale tem a ver com a incapacidade de viver na verdade, com as consequências que essa vida implica. É neste sentido que o discurso de autocrítica proferido a meio de um sermão tem um significado que os ouvintes nunca poderão entender (o padre «tinha falado verdade, transformando-a em mentira», p. 148). Por outro lado, a contrastar com um modo de vida em que o segredo e a lei moral governam as relações humanas, ganha relevo a alegria de Pearl, a ‘criança com movimentos de ave’. Pearl, na sua pureza infantil, tem uma percepção mais nítida, mais próxima da verdade das coisas, e é isso que a torna tão especial no romance de Hawthorne.
(também aqui)

domingo, dezembro 13, 2009

Slogan anarquista

A deputada Maria José Nogueira Pinto chamou "palhaço" a Ricardo Gonçalves. Os anarquistas devem ter achado muito pertinente. Penso que é deles a frase que vi escrita aqui perto: Queremos palhaços com mais decência. Batatinha à presidência!

quarta-feira, dezembro 02, 2009

Da natureza humana

«Há poucos traços mais antipáticos da natureza humana que esta tendência - que tenho observado em homens que não são piores que os outros - de se tornarem cruéis pela simples razão de que têm o poder para o ser.»

Nathaniel Hawthorne. A Letra Encarnada. Lisboa: Dom Quixote, 2009, p. 39. Tradução de Fernando Pessoa.