sábado, maio 30, 2009

Pois, a escola é uma cena marada. E o Camões, o Cesário e o Pessoa são uns bacanos do caraças!


(Postal que encontrei há dias e que pretende divulgar os serviços da rede de bibliotecas escolares.)

sexta-feira, maio 29, 2009

Perfeitos dias

96.
A destinatário não identificado

[...]
Não sei quanto «sol português» esta carta lhe leva; se alguma coisa do dia se infiltrou nela, de certeza que leva algum, porque este é um dos nossos perfeitos dias de Lisboa - um céu como se nunca tivesse havido nuvens no mundo, uma luz puríssima e uma temperatura amena, como numa obra de arte dos gregos.
[...]

Fernando Pessoa. Correspondência. 1923-1935. Lisboa: Assírio & Alvim, 1999, p. 226. Edição de Manuela Parreira da Silva.

segunda-feira, maio 25, 2009

Obediência a Mestres

155

A Ofélia Queirós
29/11/1920

[...]

Peço que não faça como a gente vulgar, que é sempre reles; que não me volte a cara quando passe por si, nem tenha de mim uma recordação em que entre o rancor. Fiquemos, um perante o outro, como dois conhecidos desde a infância, que se amaram um pouco quando meninos, e, embora na vida adulta sigam outras afeições e outros caminhos, conservam sempre, num escaninho da alma, a memória profunda do seu amor antigo e inútil.
Que isto de «outras afeições» e de «outros caminhos» é consigo, Ofelinha, e não comigo. O meu destino pertence a outra Lei, de cuja existência a Ofelinha nem sabe, e está subordinado cada vez mais à obediência a Mestres que não permitem nem perdoam.
Não é necessário que compreenda isto. Basta que me conserve com carinho na sua lembrança, como eu, inalteravelmente, a conservarei na minha.

Fernando

Ferando Pessoa, Correspondência. 1905-1922, pp. 360-361.

domingo, maio 24, 2009

"Arena" ganha prémio em Cannes


Quando vi o filme no IndieLisboa, tive a oportunidade de felicitar o realizador João Salaviza. O filme - uma curta-metragem - chama-se Arena e venceu o Grande Prémio para Curtas-Metragens em Cannes. A notícia de última hora no Público.

sexta-feira, maio 22, 2009

Irmão em Além!

48

A Armando Côrtes-Rodrigues
28-6-1914

Irmão em Além!

Eu vos saúdo e vos peço que amanhã, entre o soar duplo das duas e o soar simples das duas e mais metade de meia hora, surjais com a vossa presença carnal - sem prolongamento gesticulante de bengala agressiva - à vil cova ou jazigo de utilidades e propósitos artísticos que dá pelo nome humano de «Brasileira do Rossio». Da vossa tese vos falarei, insciente ainda se então pronta, mas pronta de certo, se não a essa, ora marcada, hora, ao cair lento e morno do crepúsculo de amanhã. Não vos aflijais! Os deus têm tempo para tudo. E no dia 30 entregareis a vossa tese, se antes o Destino a não dactilografar de pronta.
Guarde-vos Deus; e que a Futura Divindade Tutelar das Estranhezas Irritantes vos assente à sua mão direita.

Fernando Pessôa

Fernando Pessoa. Correspondência. 1905-1022, p. 118 (referência bibliográfica completa no fim deste post)

terça-feira, maio 19, 2009

Academic Earth: video lectures from the world's top scholars

É só dar um salto até aqui.

domingo, maio 17, 2009

"Colossal Youth" (não, não é o filme do Pedro Costa)

Fernando Pessoa sobre 'um poeta com desvantagens psíquicas'

(ano de 1915)
87
A William Bentley

«[...] se o senhor quiser passar os olhos por toda a literatura portuguesa do passado, encontrará um factor constante, que é a estranha falta de formas elevadas de intelecto nos seus criadores. Tome como exemplo Camões. É um grande poeta épico e um razoavelmente bom poeta lírico. Mas submeta as suas obras a uma análise imparcial e tente encontrar nele um alto grau de inteligência genuína. Não será bem sucedido. Ele é altamente emotivo; tem entusiasmo e sensibilidade. Mas é assinalavelmente desprovido de todas as qualidades puramente intelectuais com as quais a poesia mais elevada - e a literatura mais elevada - é construída. Não tem em si a profundidade; não tem uma profunda intuição metafísica (tal como poderia encontrar às dúzias numa página de Shakespeare). Não tem fantasia. Não tem imaginação, propriamente dita; embora a sua emoção suba por vezes tão alto que o leva a imaginar a imaginar a despeito da sua incapacidade. E mesmo aí, a sua incapacidade fundamental revela-se nos pormenores. Repare no Adamastor, que foi o melhor que ele fez. Note a extraordinária incapacidade para conceber os grandes pormenores, veja como ele cai no superficial e no mesquinho, mesmo no centro da sua inspiração. Ele está em terreno mais seguro em episódios como os de Inês de Castro, pois aí está mais dependente da pura emoção, sem necessidade de imaginação. Para encurtar razões, Camões, que é o mais imaginativo dos poetas portugueses antes de 1860, é, para ser brusco e franco, tão pouco inteligente como pouco imaginativo. O milagre é que, com estas desvantagens psíquicas, ele foi capaz de produzir um poema relativamente bom.»

Fernando Pessoa. Correspondência. 1905-1922. Lisboa: Assírio & Alvim, 1999, pp. 202-293. Edição de Manuela Parreira da Silva.

terça-feira, maio 12, 2009

"Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX"




Está na Feira do Livro, no sítio da Fundação Calouste Gulbenkian, e a um preço insignificante (3 euros). Refiro-me à edição crítica de Tendências Gerais da Filosofia na Segunda Metade do Século XIX, o texto de Antero de Quental «que foi dado a lume na Revista de Portugal, dirigida por Eça de Queirós, nos números referentes a Janeiro, Fevereiro e Março de 1980, ano do Ultimatum inglês e da efervescência política, social e cultural por ele suscitada» (Joel Serrão, Introdução, p. 29).

A cineasta, o filme e a comparação

Interrompendo o tempo de meditação (tradução: ando cheia de trabalho), venho falar de comparações pouco felizes. Graças a essa invenção fantástica que é o podcast, tenho ouvido várias entrevistas do Pessoal... e Transmissível, o programa de Carlos Vaz Marques na TSF. Há dias, ouvi a conversa com Raquel Freire. Bom, no fim da conversa, quando lhe é pedido que fale sobre o filme que realizou recentemente, o Veneno Cura, Raquel Freire diz que já tinha pensado numa palavra para o descrever. Preparados? A palavra é "excremento". O pasmo de Carlos Vaz Marques traduz-se no tom com que interroga: "Excremento???". Mas ouviu bem, tão bem que a cineasta faz o favor de explicar cuidadosamente: "excremento" significa aquilo que é feio mas está dentro de nós, é algo que está cá dentro e tem mesmo de sair...