A propósito da questão da 'portugalidade' (e também a outros propósitos), é recomendável a leitura de Portugal e os Portugueses, livro de Manuel Clemente, Bispo do Porto, que a Assírio & Alvim publicou em Abril deste ano. A obra reúne textos diversos (e com origens diversas), desde textos de vertente ensaística, como é o caso de "Relação entre os Portugueses e Portugal", a entrevistas em que Manuel Clemente fala sobre o papel da Igreja Católica no mundo contemporâneo ou (em tom kantiano) sobre a fé entendida como proposta racional não-relativista («[Bento XVI] acredita que o mundo, a vida, são entendíveis numa base que ultrapassa muito o subjectivismo da sensibilidade ou da circunstância. Há estruturas gerais que nos permitem ser Humanidade e que se desistirmos de chegar lá estará tudo perdido», em entrevista conduzida por José Manuel Fernandes e Raquel Abecasis).
Em "Relação entre os Portugueses e Portugal", Manuel Clemente, preferindo a noção de «densidade» à de «hipertrofia» (proposta por Eduardo Lourenço noutros tempos), defende que é a «densidade interior acumulada» que permite explicar a «infinita capacidade de adaptação» dos Portugueses. No mesmo sentido, sugere ainda que a poesia, o retrato poético do que somos, fortalece a relação 'fundamentalmente bíblica' que os Portugueses mantêm com Portugal. Na secção "Notas de Cultura Portuguesa", encontramos textos que remetem para um tempo em que o autor tinha «vagar para História» e nos quais se argumenta, por exemplo, que o culto mariano releva de uma «devoção nacional» (cf. "Maria na devoção dos Portugueses: uma devoção nacional?"). O argumento, escorado numa enumeração de factos históricos, exige, como qualquer reflexão pertinente sobre a 'portugalidade', um juízo crítico sobre a relação entre a História e a teoria.