Dois irmãos - um professor de dramaturgia que quer publicar um livro sobre Beckett e chora quando lhe fazem ovos para o pequeno-almoço, incapaz de expressar de outra forma o que sente, e uma mulher que quer escrever teatro, sonha com uma bolsa para criação artística e tem uma relação com um homem casado - têm em mãos uma situação incontornável: Jon e Wendy Savage precisam de tomar conta de um pai que sofre de demência. Têm de tomar decisões muito difíceis, e o filme de Tamara Jenkins (The Savages, 2007) mostra, para além disso (i.e., o peso da decisão), outra coisa: a decisão em relação a um pai obriga aqueles que decidem a uma reflexão. Não se trata de reflectir sobre o que correu mal na educação dos dois irmãos ou sobre quem terá contribuído mais para que as coisas tivessem corrido de uma certa maneira. Na verdade, em vez de uma analepse inútil (que seria uma interpretação bastante pobre de Freud), assistimos a um conflito em que aquilo que está em causa é a possibilidade de Jon e Wendy encontrarem sentido no que fazem, nas suas vidas. O humor, como no melhor de Woody Allen, está presente, quase sempre na forma de auto-ironia. Assim, quando lhe perguntam se é casada, Wendy responde: «Não, mas o meu namorado é!».
Há 3 anos