Numa entrevista conduzida por Inês de Medeiros, Robert Badinter descreve a pena de morte como um procedimento animado por um 'instinto de morte', fala na necessidade de 'vigiar os democratas' e sugere uma interpretação freudiana da sociedade contemporânea, considerando que a "maternização" substituiu a época da veneração dos heróis.
IM: A que se deve tanta reticência em abolir a pena de morte, se está provado que ela não é dissuasiva?
RB: Cobardia política. É preciso muita coragem. É muito difícil, do ponto de vista filosófico, mas muito mais difícil em termos políticos tomar a decisão de acabar com a pena de morte. Nem sequer Barack Obama tem coragem de afrontar esta questão e dizer que vai acabar com a pena de morte. [...] o homem é um animal que mata e não para se alimentar. Caim faz parte da espécie humana, eu conheci-o. Há nele um impulso de morte. E quando estamos perante um crime atroz esse impulso de morte desperta na opinião pública. O crime estimula o impulso de morte.
[...]
IM: Isso significa que não se pode ficar à espera de uma mudança de mentalidades?
RB: O argumento é sempre o mesmo. "A pena de morte será abolida quando o sentimento de insegurança desaparecer ou diminuir", ou seja: nunca. Porque o sentimento de insegurança está sempre connosco. O melhor aliado que encontrei foi, sem dúvida, Victor Hugo. O seu livro O último dia de um condenado põe pela primeira vez a "câmara" dentro da prisão para que o leitor se possa identificar com o condenado à morte. O génio poético é muito mais eficaz em termos emocionais na luta pela abolição do que uma explicação teórica sobre o direito à vida, o primeiro dos direitos humanos, a fragilidade da justiça, a possibilidade de erro, etc....
Entrevista completa na revista Relance (Janeiro 2009, 3, pp. 32-42)