O que dizer sobre A Mancha Humana, romance que Philip Roth publicou em 2000 e que completa a Trilogia Americana? Talvez que o desejo surge como o elemento que impede uma interpretação assente numa hipótese historicista sobre a condição humana; o desejo é o elemento constante desde os Gregos, com os seus deuses demasiado humanos, até 1998, o ano em que a América ficou a pensar num presidente e na sua estagiária. E talvez que, como é defendido ao longo deste seminário, o romance de Philip Roth apresenta uma noção de identidade pessoal como performance, algo que se pode inferir da educação de Coleman Silk, uma educação pensada a partir de Shakespeare, da língua de Shakespeare. Em larga medida, a vida de Coleman, enquanto encenação do destino de um branco, é (ou pretende ser) um argumento contra a biologia, ou contra uma instância anterior à acção, a tudo o que se faz.
Ligada à performance está a ideia do segredo, ou o facto de não sabermos tudo sobre uma pessoa. Na verdade, sugere-se em várias passagens do romance de Roth que o traço distintivo da "pessoa" é a possibilidade de fuga a qualquer definição, a qualquer conjectura fácil. A dimensão pedagógica da obra de Roth consiste justamente em descrever como um "erro" a tendência para falar das pessoas como se fossem pequenos mundos que conhecemos plenamente.