Também já mudei de psiquiatra várias vezes - não tantas como a autora deste texto... - mas acabei por encontrar uma relação estável com um psicanalista que me escuta há cinco anos, e com quem tenho o privilégio - e o grande prazer - de poder discutir sobre as fragilidades da interpretação psicanalítica dos meus problemas. Já me disseram que padeço de uma incoerência profunda e que a minha análise nunca chegará a bom porto porque eu conheço bem os argumentos que anulam as aspirações à verdade de uma descrição psicanalítica. Pode haver, sim, uma incoerência. Mas a verdade é que, com essa pessoa que me escuta há cinco anos (e que também fala, claro), consegui alcançar uma coisa muito importante: lucidez. Ou seja, consegui começar a tomar decisões com base numa narrativa mais clara sobre a minha vida. De felicidade não falo. Porque a felicidade é como a «verdadeira alegria» que Lúcio Séneca descreve a Lucílio: «é uma coisa muito séria» (Cartas a Lucílio. Livro III, Carta 23). É o fim de uma vida, não de uma análise.
A relação que tenho com o meu psicanalista é muito semelhante à de um casal: temos os nossos altos e baixos. Já não adianta contar o número de vezes que entro decidida a pôr fim àquilo. Nessas ocasiões, tento, com todas as minhas forças, ser o que não sou e ponho o ar mais determinado e sério do mundo. Até hoje nunca resultou. Digo sempre "até à próxima", tentando convencer-me de que não estou a ser uma pessoa fraca, de que decidi o melhor para mim. E volto lá. Volto, apesar de ter grandes amigos, os melhores amigos. A Ana Isabel, que pertence a este grupo, está sempre a dizer-me que quem tem amigos não precisa de psiquiatras nem de psicólogos para nada. Amanhã tenho de lhe ligar. Sem falta.