The Scarlet Letter, pintura de T. H. Matteson
No prefácio que escreveu para a sua tradução de The Scarlet Letter, romance de Nathaniel Hawthorne publicado em 1850, Fernando Pessoa cita vários críticos e conclui que, para a generalidade da opinião crítica inglesa, o romance é uma obra-prima. Não sabemos se Pessoa estaria de acordo com esta opinião geral; como nota George Monteiro na introdução ao texto traduzido pelo autor de Mensagem, «é possível especular sobre o fascínio que o romance deve ter exercido sobre o poeta» (Dom Quixote, 2009, Biblioteca António Lobo Antunes, p. XV).
O texto que li, A Letra Encarnada, é uma tradução – a de Fernando Pessoa –, mas as considerações filosóficas e as analogias, que singularizam a prosa genial de Hawthorne, escapam à traição do tradutor, e mostram um autor empenhado em criar «qualquer coisa de novo em literatura» (p. 35). O «novo em literatura» significará a capacidade de contar uma história a partir da qual possamos aperfeiçoar as nossas teorias sobre a natureza humana («Escolha o leitor entre estas teorias a que lhe parecer melhor», p. 270). E o que diz acerca da ‘natureza humana’ a história de Hester Prynne, a mulher que, no meio de uma comunidade onde reinava a «tristeza puritana» (p. 241), usava um sinal – uma letra encarnada – como marca da ignomínia? Optando por uma «teoria», seria possível incluir na resposta a palavra “sinceridade”. De facto, a ‘loucura’ do padre Arthur Dimmesdale tem a ver com a incapacidade de viver na verdade, com as consequências que essa vida implica. É neste sentido que o discurso de autocrítica proferido a meio de um sermão tem um significado que os ouvintes nunca poderão entender (o padre «tinha falado verdade, transformando-a em mentira», p. 148). Por outro lado, a contrastar com um modo de vida em que o segredo e a lei moral governam as relações humanas, ganha relevo a alegria de Pearl, a ‘criança com movimentos de ave’. Pearl, na sua pureza infantil, tem uma percepção mais nítida, mais próxima da verdade das coisas, e é isso que a torna tão especial no romance de Hawthorne.
O texto que li, A Letra Encarnada, é uma tradução – a de Fernando Pessoa –, mas as considerações filosóficas e as analogias, que singularizam a prosa genial de Hawthorne, escapam à traição do tradutor, e mostram um autor empenhado em criar «qualquer coisa de novo em literatura» (p. 35). O «novo em literatura» significará a capacidade de contar uma história a partir da qual possamos aperfeiçoar as nossas teorias sobre a natureza humana («Escolha o leitor entre estas teorias a que lhe parecer melhor», p. 270). E o que diz acerca da ‘natureza humana’ a história de Hester Prynne, a mulher que, no meio de uma comunidade onde reinava a «tristeza puritana» (p. 241), usava um sinal – uma letra encarnada – como marca da ignomínia? Optando por uma «teoria», seria possível incluir na resposta a palavra “sinceridade”. De facto, a ‘loucura’ do padre Arthur Dimmesdale tem a ver com a incapacidade de viver na verdade, com as consequências que essa vida implica. É neste sentido que o discurso de autocrítica proferido a meio de um sermão tem um significado que os ouvintes nunca poderão entender (o padre «tinha falado verdade, transformando-a em mentira», p. 148). Por outro lado, a contrastar com um modo de vida em que o segredo e a lei moral governam as relações humanas, ganha relevo a alegria de Pearl, a ‘criança com movimentos de ave’. Pearl, na sua pureza infantil, tem uma percepção mais nítida, mais próxima da verdade das coisas, e é isso que a torna tão especial no romance de Hawthorne.
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