Eu tinha de ler um livro e não me apetecia mesmo nada. Falo de Fernando Pessoa ou a Metafísica das Sensações. Obrigatório, diziam-me. Ontem chegou o dia. Bom, o livro tem ideias importantes sobre Pessoa, com José Gil a mostrar que a profundidade dos poemas de Campos & C.ª releva de uma arte poética em que a poesia consiste numa espécie de ciência - a ciência que transforma sensações em 'sensações metafísicas'. Numa nota de rodapé, descobri que a ideia de que 'os portugueses têm medo de existir' já andava na cabeça do autor quando escreveu sobre Pessoa: «Este tipo de quotidiano [banal, o quotidiano de Campos, onde nasce a especulação filosófica] parece ser especificamente português. Talvez se devesse mostrar o modo como a vida média portuguesa leva à exaustão do sentido de cada coisa.».
Sobre as leituras filosóficas de Pessoa, e as tentativas de o associar a certas famílias (no caso do livro de José Gil, a influência de Deleuze é clara), eu continuo a pensar que quem tinha razão era um professor meu que dizia que o poeta teria preferido aparecer na capa de um álbum dos Beatles, o Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band.