«Lisboa sempre foi uma cidade de calçadas ilustradas com desenhos e ornatos em pedrinhas multicolores compostas por operários de martelinho arteiro: são eles que desenham e escrevem o chão que pisamos todos os dias. Mas este grafismo - Daisy - aqui, aos pés de Álvaro de Campos, valia como uma assinatura milagrosa. Um fim de viagem, uma espera do nada, do impossível.
E eis que de repente apareceu ela. Ela em pessoa. Daisy, não havia dúvida. Surgiu na montra, por entre véus e grinaldas, a compor um manequim e, embora marcada pela idade, continuava com a tal estelinha no rosto a fazê-la perdurar para sempre.»
Do conto "O viajante anunciado", de José Cardoso Pires.
O conto descreve o assombro e a perplexidade de Álvaro de Campos ao ler as Poesias de Álvaro de Campos, e a viagem em busca de Daisy.
Inédito publicado na Ler (edição n.º 73, Outubro de 2008)