«Os motivos pelos quais a amizade nasce distinguem-se segundo três formas essenciais; de acordo com esses três motivos, assim também são as respectivas formas de amizade. Há três formas essenciais de amizade e igual número de formas que caracterizam os objectos susceptíveis de amor. Segundo cada uma delas é possível uma afeição recíproca que não passe despercebida, e os que sentem amizade recíproca desejam-se mutuamente coisas boas, com base no modo como definem a sua amizade. Os que definem a sua amizade com base na utilidade não são amigos por aquilo que eles próprios são, mas pelo bem que daí pode resultar para ambos. De modo semelhante, acontece com os que definem a sua amizade com base no prazer, pois não se gosta de pessoas divertidas pelas qualidades do carácter que têm, mas por serem agradáveis. [...]
Mas a amizade perfeita existe entre os homens de bem e os que são semelhantes a respeito da excelência. Esses querem-se bem uns aos outros, de um mesmo modo. E por serem homens de bem são amigos dos outros pelo que os outros são.»
Aristóteles. Ética a Nicómaco. Tradução e notas de António C. Caeiro. Lisboa: Quetzal, 2004, pp. 182-184.