Há dias, depois de ler a entrevista de Carlos Vaz Marques na Ler, lembrei-me das crónicas que Miguel Esteves Cardoso escreveu no Expresso. Em muitas dessas crónicas, com um humor brilhante, procurou (preparando o caminho para outros humoristas) captar os traços da "pinta" dos Portugueses ("A Pinta dos Portugueses" é o título de uma crónica publicada em Os meus problemas). Esteves Cardoso chamou-lhe "pinta" em vez de "identidade", mas as suas crónicas tratam sobretudo desse 'tema importantíssimo' que é o problema de Portugal ou do "ser português" – segundo Eduardo Lourenço, foram os literatos do século XIX que lhe conferiram uma seriedade especial (note-se que os modos de colocar o problema, as suas formulações, variam; Teixeira de Pascoaes, por exemplo, foi ao ponto de conceber a existência de uma “arte de ser Português”; na edição da Arte de Ser Português que tenho, da Assírio & Alvim, o prefácio é de Miguel Esteves Cardoso).
Na verdade, o problema de Portugal continuou a preocupar durante o século XX outras pessoas, para além dos poetas. Recentemente, José Gil alcançou um feito quase histórico para a “filosofia portuguesa”, colocando no top de vendas um livro que pretende tratar do mesmo problema. Falo de Portugal Hoje – O Medo de Existir. Uma vez que o livro vendeu e continua a vender, convém lembrar a existência de um texto – o de Silvina Rodrigues Lopes, publicado no n.º 3 da revista Intervalo, de Maio de 2007 – que contesta a tese defendida por José Gil. Uma síntese do argumento de Silvina Rodrigues Lopes pode ser lida aqui.
(2007 foi também o ano em que Miguel Real publicou A Morte de Portugal, que mereceria um longo post.)
(2007 foi também o ano em que Miguel Real publicou A Morte de Portugal, que mereceria um longo post.)