A propósito de um comentário da Ana, lembrei-me destes versos de Cesário Verde:
Uns operários, nestes descampados,
Também surdiam, de chapéu de coco,
Dizendo-se, de olhar rebelde e louco,
Artistas despedidos, desgraçados.
Muitos! E um bêbado - o Camões - que fora
Rico, e morreu a mendigar, zarolho,
Com uma pala verde sobre um olho!
Tivera ovelhas, bois, mulher, lavoura.
Prolonga-se aqui a imagem do autor d'Os Lusíadas que Almeida Garrett apresentara em Camões. Mas nestes versos de Cesário, de "Em petiz", a palavra "zarolho" é decisiva na construção de um retrato desencantado de Camões, reforçando a ideia (ou o sentimento de tristeza e soturnidade, que é o sentimento de um Ocidental) de que a pátria é sempre ingrata para os poetas.