terça-feira, junho 23, 2009

As cócegas de Nietzsche explicadas por MacIntyre

«[...]
E, resumindo: se tivesses pensado mais avisadamente, observando melhor e aprendido mais, não tornarias a chamar em caso algum a este teu «dever» e a esta tua «consciência» dever e consciência; o conhecimento de como alguma vez os juízos morais puderam ter origem desgostar-te-ia destas patéticas palavras - tal como já acontecera com outras palavras patéticas, por exemplo, «pecado», «bem-aventurança», «redenção».
E não me fales agora do imperativo categórico, meu amigo! Esta expressão faz-me cócegas no ouvido e tenho de me rir, apesar da tua grave presença; lembra-me o velho Kant, que para castigo de ter surpreendido «a coisa em si» - uma coisa também muito ridícula! -, foi surpreendido pelo «imperativo categórico» e, com ele no coração, tornou a desencaminhar-se para «Deus», «alma», «liberdade» e «imortalidade», tal como uma raposa que se torna a desencaminhar para a sua gaiola; e tinham sido a sua força e inteligência que haviam arrombado esta gaiola!»

F. Nietzsche. A Gaia Ciência, secção 335. Lisboa: Relógio d'Água, 1998, p. 235


«The rational and rationally justified autonomous moral subject of the eighteenth century is a fiction, an illusion; so, Nietzsche resolves, let will replace reason and let us make ourselves into autonomous moral subjects by some gigantic and heroic act of the will, an act of the will that by its quality may remind us of that archaic aristocratic self-assertiveness which preceded what Nietszche took to be the disaster of slave-morality and which by its effectiveness may be the prophetic precursor of a new era. The problem then is how to construct in an entirely original way, how to invent a new table of what is good and a law, a problem which arises for each individual. This problem would constitute the core of a Nietzschean moral philosophy. For it is in his relentlessly serious pursuit of the problem, not in his frivolous solutions that Nietzsche's greatness lies, [...]».

Alasdair MacIntyre. After Virtue. A study in Moral Theory. Duckworth, 1984, second edition, p. 114. (itálicos meus)