quinta-feira, junho 04, 2009

"Singularidades de Uma Rapariga Loura"


De Singularidades de uma Rapariga Loura, o filme mais recente de Manoel de Oliveira, retive a cena da janela, onde alguns viram uma vénia ao mestre Hitchcock. A janela - metáfora útil a empiristas como John Locke - enquadra a rapariga loura. Melhor, inscreve-a no filme como a pintura que vemos atrás do leque com que Luísa quase hipnotiza Macário. Com efeito, todo o filme explica (é esse o seu fim, creio) a distância que existe entre aquilo que se vê da janela do escritório - pelo olhar de Macário - e o que se vê na outra janela - Luísa. O problema de Macário foi, citando o texto de Eça, o da «intuição interpretativa dos namorados». ("Singularidades de Uma Rapariga Loura". Contos. Lisboa: Livros do Brasil, 1999, p. 14).