segunda-feira, agosto 10, 2009

Férias em Roma

(a viagem de lambretta fica para a próxima)

Antes de ficar aqui a descansar mesmo (sim, está confirmado: as praias da costa alentejana são uma dádiva dos céus), estive em Roma cinco dias. Foi a primeira vez que estive em Itália, e com a visita ganhei também autoconhecimento: fiquei a saber que suporto muito mal o calor, de onde se infere que ver ruínas quando estão 37 graus é para mim uma forma de tortura. Repetir a façanha, como dizia o outro, jamais.

A "cidade"
Para falar sobre Roma tenho alguma dificuldade em utilizar a palavra "cidade". Nova Iorque é uma cidade; Roma, como se diz numa metáfora já gasta, é um grande museu, onde habitam tempos e formas de vida diferentes. À porta das grandes Igrejas há miúdos que jogam à bola, miúdos para quem a metafísica não existe, e no Coliseu podemos ver um gato com ar de poucos amigos que come whiskas. Os turistas que viajam em grupo desempenham o seu papel: passeiam e atropelam-se à procura da melhor foto, mesmo dentro de templos onde o silêncio deveria ser a única linguagem. Mas Roma é também um espaço de contrastes de outro tipo: perto da estação de Termini, por exemplo, percebe-se que não há lugar para poesia. Ali há vendedores que dormem no chão, indiferentes ao barulho dos carros e da estação; os que têm mais sorte conseguiram comprar uma paninoteca que atende durante toda a noite.

(o gato do Coliseu)

Era para ser uma experiência como a de Stendhal...
Mas não foi. Refiro-me à minha visita à Capela Sistina. Ver os frescos de Miguel Ângelo - esse milagre - esmagada por hordas de Japoneses e Brasileiros não é o contexto ideal para uma experiência estética, acreditem.

Portugueses
Perto da entrada do Museu do Vaticano, quando falava ao telemóvel, fui identificada: era um português com a família, a mulher e dois filhos. Tinham chegado na véspera, iam para o sul de Itália no dia seguinte e decidiram 'passar para conhecer Roma' (assim como quem vai a Beja e decide passar primeiro por Reguengos de Monsaraz para conhecer aquilo). Só descobri que se tratava de uma família de masoquistas quando me disseram que viajavam de carro. Antes da despedida e dos "votos de continuação de boa viagem", um dos filhos perguntou se era ali que iam ver a "estátua com os putos a mamarem"...

Italianos
Sobre Itália e os Italianos, eu sabia, para além do que aprendi em livros de História, alguma coisa que havia sido construída com imagens, i.e., pelo cinema, e tinha também uma espécie de interesse antropológico que posso resumir nesta pergunta: "O que levou os Italianos a votarem num político como Berlusconi?". Bem a propósito, vi por lá um livrinho cujo autor se propôs responder à questão. Na verdade, numa pesquisa rápida pela Amazon encontram-se algumas obras que pertencem ao mesmo género (eg. esta e esta), o que faz crer que Berlusconi se transformou num objecto de estudo rentável, e possivelmente num tópico para dissertações em sociologia ou ciência política.