Liguei a televisão e Manuela Ferreira Leite estava a ser entrevistada por Judite de Sousa. Por aquilo que ouvi, pareceu-me que a líder do PSD rejeita a ideia de "político profissional"; assim, associa à política o "calculismo", as "frases feitas" e o "powerpoint". A política da verdade não se faz com "políticos". MFL não elabora frases como um "político", ela não fala como eles, e chega a afirmar que comete erros linguísticos como "qualquer pessoa". MFL mantém-se firme e diz que nem a cor do cabelo mudaria: ela é apenas uma pessoa, uma pessoa como eu e o meu vizinho que passa os dias a ouvir Céline Dion.
Pois, sim... Mas é aqui que eu começo a pensar e vejo que não percebi uma coisa na entrevista. Para certos fins (para ganhar votos, o que é legítimo, claro), faz sentido falar de uma política que se faz contra a ideia de política, contra a ideia de que há um conjunto de acções que partilham uma essência ou natureza política. Neste raciocínio, fala-se de e defende-se uma política das pessoas que são autênticas e que, por essa razão, se comportam no exercício do poder de acordo com aquilo que realmente são, ou seja, sem artifício (admito que isto é confuso, mas estou a tentar pôr por palavras aquilo que percebi). No entanto, para outros fins (para justificar a escolha de certos nomes para uma lista), entramos num raciocínio diferente, e, segundo MFL, começa a fazer sentido distinguir entre domínios (justiça/política, privado/público) e falar de acções que não têm uma natureza política, que não são politicamente relevantes.
Clarificando: se eu percebo a ideia de que as pessoas devem ser coerentes e não andar "a tirar e a pôr chapéus" (como diz um professor meu), ou a ideia de que estar na política (expressão muito curiosa) não é desempenhar uma certa performance, o que já não compreendo é onde está a coerência no momento em que se pressupõe, a propósito de certos casos de que a justiça está a tratar, que as pessoas se comportam de maneira diferente quando estão em âmbitos (contextos) diferentes.
Sociologicamente, a tese de que somos diferentes segundo o contexto onde estamos não deixa de ser uma tese interessante (talvez demasiado existencialista para o meu gosto). O ponto é que esta tese só é útil a Manuela Ferreira Leite em certos contextos.